Por Alípio Junior, especialista de commodities agrícolas da Sacre
Recentemente, conversando sobre o mercado agrícola com um produtor rural, em nosso escritório, perguntei a ele sobre como trata seus investimentos. A conversa tomou um caminho interessante, e vou descrever para você:
Eu: Senhor João, como estão seus investimentos?
Produtor Rural: Ah, não costumo fazer investimentos em bancos ou corretoras.
Eu: Quando o senhor realiza a colheita da soja ou do milho, imagino, então, que o senhor já comercializa toda a sua produção?
Produtor Rural: Não! Eu deixo toda minha produção armazenada, e não comercializada. Inclusive, é aqui que está o meu investimento. Sou muito conservador, e não gosto de correr riscos. Tenho grãos da safra anterior estocados também.
Eu: E por qual motivo o senhor não realizou a venda?
Produtor Rural: É que eu acredito que a soja ou milho vai subir de preço. E se eu vender minha produção hoje, posso ficar fora da alta de preços que creio que vai acontecer.
Eu: E se, em vez de subir, os preços caírem?
Produtor Rural: É o risco da atividade!
Perfil de risco no mercado agrícola
Não vou escrever toda a conversa, mas, neste pequeno trecho, destaco alguns pontos importantes. Há uma questão de perfil de risco que deixei claro a este produtor.
Ele comentou comigo que é conservador. No entanto, sua reserva “financeira”, que hoje se traduz a commodity, está exposta a riscos de mercado como: produção de grãos dos EUA, acordo comercial EUA e CHINA, produção da soja brasileira, oscilação do dólar, peste suína africana, coronavírus, entre outros aspectos que vão impactar diretamente a sua comercialização.
Ou seja, os grãos depositados e não comercializados acabam tendo um comportamento similar à renda variável, com volatilidade e alto risco.
Derivativos no mercado agrícola
Outro aspecto importante, é que o produtor não realizou a venda para não perder uma possível alta da soja ou milho.
Nesta situação, há um instrumento no mercado financeiro que permite ao produtor participar dessa alta e se proteger de uma queda: falo dos derivativos negociados na B3, a bolsa de valores.
Os derivativos permitem travar o preço da produção, participar de uma alta, entre outras estratégias.
O ideal neste cenário, seria o produtor realizar a venda física do produto caso esteja em um patamar de preço satisfatório e, se acreditar que o preço pode continuar subindo, comprar contratos ou opções de compra para participar dessa expectativa de alta.
Como funcionam as opções no mercado agrícola?
Após a conversa que tive com o senhor João, perguntei a alguns produtores rurais se os mesmos conhecem este mecanismo de trava de preço que a B3 proporciona. Poucos me disseram que já ouviram falar, mas que ainda assim não se utilizaram dos contratos.
Esses contratos servem basicamente para minimizar o risco de preço que o produtor rural corre. O produtor, ao realizar o plantio, sabe que precisa colher “x” sacas e vender no mínimo a “x” reais para que tenha resultados satisfatórios.
O risco de produção o mesmo consegue diminuir através da contratação do seguro agrícola que, nos dias de hoje, é bem disseminado entre os produtores.
Geralmente, o produtor tem o receio de que os preços caiam no momento da comercialização. E este risco pode ser reduzido através de uma estrutura de hedge (proteção), montada com contratos derivativos e/ou opções.
Por que usar opções no mercado agrícola?
Esses contratos derivativos proporcionam ao produtor melhor planejamento, diminuição de riscos e proteção das margens. Todo o cuidado que o produtor tem da porteira para dentro, utilizando as melhores tecnologias e práticas de manejo, podem não apresentar o resultado financeiro esperado por não se utilizar de instrumentos derivativos.
É necessário planejar a comercialização e buscar eficiência da porteira para fora. Nas próximas publicações, trarei mais informações sobre esses contratos. Até mais.